AVÔ…

eras sangue do meu sangue, eras amigo do meu coração, melhor amigo de alma, e avô de sangue.

tu eras…eras o meu maior e verdadeiro amigo, eu olhava ao meu redor, e para mim, toda a gente tinha defeitos, odiava toda a gente porque magoam-se por motivos insignificantes, mas para ti, independentemente do que via ao meu redor, foste tu que me ensinaste que o mundo não era tão perfeito como aparenta ser, apesar de tão cruel e incerto, encontrei algo belo, alguém perfeito, esse alguém eras tu.

ainda não tinha encontrado as palavras mais sensatas para te poder transmitir toda esta admiração que encaminha as minhas acções e pensamentos exclusivamente para ti. mas agora, é tarde demais para te dizer isto tudo, tu partiste e deixaste-me só, sem a tua protecção, sem os teus conselhos, e agora não tenho ninguém para confidenciar o que se tem passado na minha vida, tenho tanto para te contar, mas deixaste-me, partiste e nem com aviso prévio. queria partilhar todas as minhas novas aventuras, as minhas paixões, as minhas novas amizades, queria partilhar tudo contigo, como antes fazíamos. lembraste? quando eu me sentia só, desolada, triste, quando toda a gente me via feliz mas só tu te apercebias quando eu tinha algum problema ou quando precisava de falar. sim, não me esqueço que me abandonaste neste mundo onde nada parece certo, onde tudo parece errado, era neste mundo que só tu importavas, era neste mundo que não havia mais ninguém que me percebesse tanto como tu. sinto falta do meu amigo para as brincadeiras, saudades do meu melhor amigo que partilhava comigo as boas e menos boas recordações, saudades do meu adorado avô que me dava afecto, carinho, que quando nada me fazia sorrir tu fazias-me de um jeito tão simples a dar gargalhadas, sim, porque estavas do meu lado quando precisava dos teus conselhos, do teu afecto, protecção e quando não me conseguia manter forte.

o que sou hoje, e o que sei hoje devo-te a ti, tu que me criaste, tu que me ensinaste a distinguir o certo do errado, o bem do mal, tu que quando eu estava errada me apoiavas e não me julgavas nem viravas as costas, tu que me ajudavas a esquecer as tristezas mas ajudavas a aprender com o sofrimento e com os erros, a nunca esquecer os momentos de felicidade que me fazem sorrir e viver cada segundo como se fosse o último, tantos segredos que tenho a revelar mas só contigo me sentia segura, protegida, e era só a ti que confiava tudo, não escondia nada e nunca me arrependi dos primeiros anos da minha vida, viste-me crescer, soubeste-me educar, tu que me protegias como ninguém, tu que sempre me concedeste a felicidade, tu que quando minhas lágrimas pareciam ser constantes me dizias apenas umas três simples e inesquecíveis palavras: “ cabeça erguida netinha! ”. já me fizeste chorar com teus discursos, rir com tuas anedotas sem graça mas que com o teu jeito de as contar conseguias colocar qualquer pessoa a sorrir...mágoas de amor que hoje me fazem tão persistente e inacabável, porque contigo eu sabia sorrir, eu sabia amar, mas desde que partiste só me apetece chorar e reviver tudo o que passamos juntos e se pudesse voltar atrás nunca te deixaria ir para o outro mundo, tua imagem ali…parado, sem sorrir, sem falar, gelado, como hei-de me lembrar de tudo que passamos se só essa imagem me vem a cabeça vezes sem conta, sem parar, parece castigo, passo os dias a tentar esquecer, mas na verdade, não dá!

não dá para esquecer tua imagem como se não fosses mais o mesmo, é que…não te queria deixar sozinho, coberto de poeira, mas não me permitiram que não te deixasse ir, queria-te vivo, a sorrir, não te queria frio mas sim quente e sentir o teu abraço de apoio, eu dava tudo para que pudesses apenas despedires-te de mim e lembrei-me que não quero que nada que tenhamos vivido seja esquecido, será nostalgia? será que tudo vai mudar? eu não queria, mas num ápice tudo mudara.

Saudades de ti, adorado avô!